AS NOVAS BANDEIRAS DA TI

21/07/2013 21:19

Qual é o novo papel dos homens de TI na contemporaneidade que precisa aprender a entender o rito da passagem da sociedade da informação para a sociedade do conhecimento? - É o papel de noção de tempo e espaço para virtualidade e interatividade.

Somos de gerações diferentes, os mais experientes propuseram soluções em equipamentos e sistemas que revolucionaram as organizações e as sociedades educativas. Antes tínhamos o compromisso com a geração da informação, lá pelos idos da década de 70. E tanto as empresas como as escolas se preocuparam demasiadamente com o dado, onde consegui-lo e como guardá-lo.

Hoje, a sociedade evoluiu para a sociedade do conhecimento, onde não deve mais se preocupar com a informação, porque ela já está disponível na Internet. E o maior acumulador de informações da atualidade é o Sr. Google.

O que os homens de TI precisam entender é processo pela qual estão passando, de uma sociedade que gera informação para uma sociedade que precisa refletir sobre o que fazer com ela.  E para entender alguns desses processos, temos que entender o rito da passagem. Alguns sintomas desse rito podem ser interpretados assim:

AUTORIAS COMPARTILHADAS

Com as redes sociais os homens deixam de serem autores para serem leitores protagonistas.  Poucos detinham as condições para publicar suas ideias e conhecimentos. Hoje, toda a população está criando através de seus blogs, mensagens nas redes sociais, artigos em jornais digitais. Somos cada vez mais uma verdadeira rede de ideias, criatividades, inovações, pulsando no coração da sociedade de trocas muito rápidas. O conhecimento que te falta está disponível na rede, alguém escreveu exatamente o que te falta compreender para que possas também levar adiante o teu projeto de saber para outros, e assim, por diante. Cada nó é fundamental nesta teia de trocas de informações e de construções de significados. Estamos criando democraticamente a informação de tal forma que ela não é mais a moeda de troca. A moeda de troca numa sociedade de conhecimento é a ideia inovadora e o talento a serviço da solução dos problemas educacionais, sociais, políticos e empresariais.

Não somos mais autores no sentido estrito da palavra. Somos contribuintes de sentidos e significados, uns dos outros. Ninguém traz ao mundo mais ideias originais, são ideias construídas com a participação e interação de milhares de outras ideias que vão fazendo sentido, tomando formas, e sendo configuradas em realidades distintas.

SABERES COLETIVOS

A Escola e a Universidade estão perdendo a hegemonia pela informação e também pela produção de conhecimentos. A sociedade está substituindo a estrutura organizada e disciplinar da escola pela estrutura de um letramento multissemiótico, onde inúmeras maneiras de trafegar a informação, estão produzindo saberes.

Aos homens de TI não cabe mais apenas a solução sistêmica de circuitos físicos de possibilidades negociais, é preciso estudo de viabilidades do saber, das trocas entre clientes e fornecedores que estão sendo discutidas nas redes sociais, nos depoimentos virtuais e nos cursos a distância. Se a empresa era o elo entre fornecedores e clientes, precisa refazer seu papel, pois tenderá a desaparecer nessa nova estrutura de conhecimentos que estão sendo costurados. Os saberes estão nas cabeças dos profissionais que buscaram as informações e estão sabendo o que fazer com essas informações, redescobrindo processos, redefinindo projetos e reconstruindo soluções.

MONOPÓLIO DOS SABERES NÃO É MAIS DAS INSTITUIÇÕES

Se antes a TI e os gestores organizacionais possuíam saberes de seus modus operandis, agora precisam ter cuidado com as pressões que as redes sociais exercem sobre as mudanças e como elas estão causando sucessivos transtornos à comunidade empresarial. Mais importante do que o capital humano é o capital humano que sabe decidir e, se este está operando em várias frentes e com uma série de equipamentos de alta tecnologia, buscando através das informações que acessa e os modos operacionais com que opera, transformar os saberes em realidades e comportamentos sociais e empresariais de mudança, estão definitivamente mudando os paradoxos e os paradigmas. Alguns poucos homens de TI estão produzindo saberes capaz de alterar o tecido tecnológico de sua empresa, da sua comunidade, do país e do mundo, porquê? Porque somente alguns estão pensando sobre as informações que recebem todos os dias. A grande maioria dos colaboradores apenas consome informação. O grande desafio dos homens de TI é receber a informação e trabalhar com ela antes que ela se constitua em despejo residual, como a piada que ninguém mais ri. Em outras palavras, o homem de TI precisa se apropriar da informação antes das outras funcionalidades empresariais e produzir conhecimentos e saberes com tal rapidez e criatividade inovadora, que seja capaz não só de transformar projetos em realidades, mas informações antigas em novos conhecimentos. Se antes, os homens de TI tinham que matar um leão por dia, agora devem alimentar a floresta empresarial com informações inovadoras, criativas, ricas em interatividade, buscando relacionar fluxos de produção de ideias com soluções eficazes e eficientes para as suas organizações.

CONTROLE DO PODER E DO SABER

Uma grande prova da força das redes sociais é o movimento dos jovens ocorrido recentemente, em junho de 2013, no Brasil. Provou-se tão eficaz que sacudiu as bases do poder demonstrando que a força existe e está com ela. Mas precisa transformar informação em conhecimento, e isso, parece que as redes sociais ainda precisam investir um pouco mais. É um processo que está sendo construído e evoluído. Mas logo elas saberão o que fazer. E cabe aos homens de TI essa tomada de consciência, de decisão e urgência. Todo poder pode ser destruído se houver sabedoria. E sabedoria se faz com conhecimento das informações. As redes já possuem informação, mas precisam de um projeto de como essas informações viram conhecimento. Não se trata mais de controlar o poder, mas de conquistar o saber.

MANANCIAL DE CONSTRUÇÃO DE CONTEÚDOS

O FACEBOOK é a mais perfeita arma de construção de conteúdos que o mundo conheceu até agora, em se tratando de comunidades virtuais. Jovens de todas as idades, alunos e professores, estão sendo carregados pela enxurrada de informações que ela produz a cada minuto nas redes sociais. Também aos homens de TI essa leitura é necessária, pois embora haja muito lixo também, é rico em proporcionar aos leitores novas fontes e descobertas. O letramento multisssemiótico que ela produz ou faz parte através de textos, figuras, fotos, áudio e vídeos, dá a perfeita noção que num futuro muito próximo, essas mídias falarão o idioma empresarial internacional. Já existem produtos com arquivos sonoros nas embalagens para que o consumidor não tenha que ficar lendo os rótulos, ou seja, não podemos impor aos consumidores apenas uma mídia e, sim, várias soluções midiáticas. Também aos homens de TI é esperado que a construção de seus conteúdos esteja ocupando lugar de destaque nas mídias em que navega ou nos boletins informativos empresariais que participa.

O FACEBOOK nas organizações e na sala de aula irá proporcionar um avanço quântico de proporções incalculáveis. Sua peculiaridade consiste em promover a participação de todos os envolvidos na mesma pretensão: ensinar e aprender. Ora, no modelo anterior, apenas o professor ensinava e aos alunos cabia apenas aprender. Agora, todos aprendem e ensinam, uns aos outros, uma porção de informações. Coloque isso numa fórmula matemática e você irá se assustar do resultado potencial da geração do conhecimento vindo de todas as direções.

O uso pedagógico das redes sociais e, em especial, do FACEBOOK, que é um ambiente virtual de construção de conteúdos por natureza, permitirá que os alunos e professores sejam articuladores de pesquisa e projetos que fazem perguntas e aos responder, coloca os sujeitos em estado de colaboração, pesquisa e entendimento das informações pesquisadas. Todos publicam em diferentes proporcionando outro significativo avanço na educação, que além da pesquisa e do trabalho colaborativo de fato, também agora se transformam em leitores protagonistas, pois todos lêem as mensagens de todos os alunos, tornando assim o ensino e aprendizagem uma corrente em todas as direções. Imagine isso numa realidade empresarial, quantos benefícios não poderão tirar dos ensinamentos que todos possuem todos os dias com os clientes e fornecedores. Não são os professores e as chefias que produzem conteúdos programáticos ou escolares, são todos os participantes

NOVOS PAPEIS NA EDUCAÇÃO CORPORATIVA

Se antes o papel da educação corporativa era treinar colaboradores para competências e habilidades, prometendo novas atitudes diante dos problemas, agora novos papeis são solicitados. Enquanto empresas ainda proíbem o acesso à informação através das redes sociais, e por isso perdem de conhecer ainda mais seus clientes, outras estão revolucionando o seu mercado de consumidores permitindo maior fidelização, aumentos sucessivos nas vendas e constantes feedbacks para novos projetos empresariais. Uma dessas revoluções que assolam o mundo dos negócios é a construção de pirâmides de ideias sobre os produtos de uma organização qualquer. Isso funciona como uma metástase empresarial pulverizando as redes por onde passa. Não se trata apenas de realizar publicidades de produtos, mas sim de promover atitudes nas quais você queira dar aos consumidores dos produtos. Utilizamos uma marca de xampu ou sabonete não só pelo cheiro ou aroma que proporciona, mas porque o produto está vinculado a ações sociais, esportivas, escolares, de pesquisa, ligados a arte, poesia, música, provocando uma interdisciplinaridade nunca vista no mundo dos negócios. Isto é inovador e criativo, alterando drasticamente o papel da formação intelectual dos colaboradores, não só voltados para o produto ou serviço mas para a postura de ideias, vida, segmento social, cidadania, política, etc. As pessoas consomem os produtos que estão contextualizados em seu viver diário. Para isso preciso saber o que fazem, como fazem com quem se relacionam, e as redes sociais proporcionam todo o tipo de informação sobre os indivíduos.

EMPRESAS ANTES QUERIAM MÁQUINAS, HOJE ELAS QUEREM TALENTOS

Nas últimas três décadas a grande preocupação do mercado era com o diferencial investido em máquinas, robotização, downsizing e reengenharia, outsourcing e terceirização, automatização de processos, fluxos inteligentes de produção, movimentos inteligentes de estoque e outras soluções, mas agora, as empresas querem mais e muito mais. Esperam dos homens de TI, além de toda a formação que exigem, atitudes, talentos, e aplicação de conhecimentos sobre produtos, serviços e processos, além é claro de pessoas. E isso não se faz da noite para o dia, homens sábios nas organizações é ouro em pó. É preciso programas complexos para descobrir tais talentos nas organizações e mais complexos ainda os programas para retê-los uma vez que os que realmente fazem diferença estão em busca de desafios e não necessariamente de recursos financeiros. Talentos são hoje jóias raras nas organizações e onde estão os futuros homens de TI: nas redes sociais, promovendo encantamentos, divulgando saberes, instituindo discussões sociais, políticas, religiosas, étnicas, divulgando informações que realmente acrescentam, fazem a diferença, constroem conhecimentos. Há muito lixo também, mas uma das expertises da TI é separar esta daquela informação e quais agregam valor.

RITOS CIBERNÉTICOS

Assim como todas as empresas mundiais, nos idos da década de 90 já haviam experimentados algum tipo de tecnologia empresarial, mesmo aqueles mais rudimentares como folha de pagamento, RH, contabilidade ou fluxos de recebimentos e pagamentos, e por isso entenderam o rito de passagem de uma sociedade manual para uma sociedade computadorizada, também as organizações estão passando por transformações na atualidade.

Os ritos cibernéticos estão desafiando novamente o poder de decisão das organizações. Agora elas estão tendo que decidir se liberam as redes sociais para seus colaboradores ou se continuam proibindo o uso durante o expediente.

Normalmente, as empresas que conseguem convencer seus colaboradores, através de programas específicos e cursos qualificados do uso pedagógico empresarial das redes sociais, conseguem rapidamente saltos quânticos, e apresentam melhoras substanciais tanto na produção quanto nas vendas. As empresas vendem mais porque os colaboradores estão conhecendo mais seus consumidores que estão hipnotizados nas redes sociais.

O quanto antes os homens de TI conseguirem convencer seus gestores de que uma nova postura está em processo e que precisam entender o rito de passagem, ou perderão não só os colaboradores, mas também os consumidores.

As redes sociais abriram rapidamente o leque e hoje já são considerados redes de produção, de consumo, de educação, de treinamento corporativo, de trocas e experiências, de produção de conhecimentos e de saberes.

SABERES X FAZERES

Quanto mais cedo os homens de TI aproximarem esses dois conceitos, mais próximos estarão de concretizar seus principais desafios: união dos saberes e aplicação nos fazeres. Assim como o Google responde aos teus anseios quando a preocupação é a informação, assim as redes sociais respondem aos teus anseios quanto ao conhecimento que deves adquirir para resolver problemas e tomar decisões. Em muitos casos, as soluções vêm prontas, mas na maioria das vezes, é com muita informação e reflexão que as ideias são construídas e germinadas. Existem inúmeros exemplos de organizações que utilizaram as redes sociais para aproximar produtos de clientes, produtos de fornecedores, e assim, expandir as vendas, melhorar as imagens publicitárias, redescobrir novas estratégias de marketing, descobrir novas interdisciplinaridades.

Não é uma tarefa fácil, não se trata apenas de navegar nas redes e achar que as informações virão prontas e os saberes serão construídos, da noite para o dia. Leva tempo, requer paciência, estudo, concentração, e as empresas que já estão nesta caminhada, apresentam substancial melhoria e avanço em direção a prosperidade.

FINALMENTE, O PAPEL DA TI

Mas então, qual é finalmente o papel dos homens de TI nas organizações?  Conhecer o mercado de soluções tecnológicas? Conhecer o que a concorrência está fazendo para modernizar seu parque industrial, tecnológico, comercial e marketing? Não. Definitivamente, este não é mais só o papel dos grandes homens de TI. Suas novas funções estão atreladas aos staffs de negócios na empresa, descoberta de soluções inteligentes, busca de talentos, procura por diferenciais, transformação de informação em conhecimentos e saberes, atitudes, novas competências tecnológicas, visão sistêmica, estudos da cognição humana, formação de líderes e lideranças, interdisciplinaridades e transdisciplinaridades corporativas. O inovador no mundo da formação dos homens de TI é saber que ele não possui mais acesso só aos dados, mas a sua interpretação dos dados, e que essa interpretação seja compartilhada com todo o restante da organização.

Compartilhar informação era o paradigma da fase industrial, hoje o compartilhamento é da interpretação e reflexão que se faça dos dados recebidos. Hoje a preocupação não é mais em proteger os dados através de segurança nos sistemas, mas o que a empresa faz com esses dados, como ela transforma isso em moeda de troca. A produção de valor é o que importa nas novas relações.

O maior desafio às organizações hoje é conseguir transformar informação em saberes nas cabeças dos seus colaboradores tornando-os ativos e reflexivos diante dos problemas. Piaget, um dos mais importantes pesquisadores de educação e da pedagogia dizia: "O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram." É isso que se espera das novas gerações de TI: inovação, criatividade, conhecimentos e produção de saberes.