FACEBOOK NA SALA DE AULA

13/05/2013 16:51

 

O FENÔMENO DO CURSO FACEBOOK NA SALA DE AULA

ENTREVISTA DO PORTAL EAD BRASIL COM O CRIADOR DO CURSO, PROFESSOR DOUTORANDO CLÁUDIO DE MUSACCHIO

 

Como as redes sociais podem contribuir para a Educação que se quer para o século XXI?

 

O fenômeno das redes sociais se popularizou por ocasião da Internet e da democratização da informação em todos os sentidos e aspectos.  Um novo paradigma se instala no tipo de relações a que estávamos acostumados. Antes nós éramos poucos, agrupados em pequenos números, nas escolas, nas atividades sociais, nos esportes, nos estudos extraclasses, nos ambientes profissionais, e assim por diante. Hoje, com as redes sociais, participamos de gigantescos grupos de relacionamentos, somos adicionados mais rapidamente do que conseguimos conhecer as pessoas. A interação instantânea e crescente nos coloca numa avalanche de possibilidades de troca, de experiências, de informações e de conhecimentos, nunca vista na Historia mundial. A Educação logo se apropriou dessa tecnologia tendo em vista o seu alto grau de concentração de interessados por assunto. Era isso que faltava aos outros ambientes virtuais de aprendizagem: interatividade em massa. As redes sociais vieram para ficar, não porque as crianças estão brincando e se divertindo trocando fotos e textos, vídeos e mensagens, mas porque criamos uma estrutura social de relacionamentos, onde a base da participação é a produção de informações – o sistema rede de ensinantes e aprendentes.

Como as escolas estão se preparando ou se apropriando dessa tecnologia de rede para mudar a Educação, ou ainda é um processo desconhecido do ambiente escolar?

Por enquanto, segundo pesquisas não oficiais, a maioria das escolas brasileiras são contra o uso de redes sociais em sala de aula. As escolas ainda não encontraram razões para usar o celular, o tablet, o próprio computador ainda é um bicho de sete cabeças, o que dirá as perspectivas de se utilizar sistemas de rede na didática e pedagogia escolar. Felizmente, algumas iniciativas já começam a desenvolver aplicações para os equipamentos móveis como celulares, iphones e ipods, etc., e introduzindo paulatinamente na sala de aula. Muitas escolas nos procuram com problemas sérios de alunos que não vêem na Escola a vontade de estudar e de aprender. Falta-lhes alguma motivação e é claro, acesso as novas tecnologias. Mas sem dúvida alguma, o desconhecimento desta nova tecnologia para a educação ainda é o fator preponderante na maioria das realidades regionais.

Porque esta mudança de paradigma entre o sistema linear de ensino e aprendizagem para o modelo em rede está demorando tanto para acontecer?

Primeiro que para acontecer de fato a mudança tecnológica é preciso adequar o sistema para a nova realidade. Não podemos mais ter laboratórios de Informática nas Escolas. Este modelo, aplicado nas décadas de 80 e 90, foi aplicado assim, desta maneira, por questões financeiras e porque a demanda pelo uso ainda era muito incipiente. Mas no início do século XXI, a demanda aumentou drasticamente, quer pelos aplicativos educacionais que inundaram o sistema educacional, quer pela cultura da utilização do computador por conta da Internet e dos sistemas de busca à informação para pesquisas escolares. Adequar o sistema para rede significa colocar um computador para cada criança na sala de aula. O sistema em rede determina que todas as crianças estejam conectadas na rede em questão, o tempo todo. O modelo pedagógico e didático se apóia fortemente no uso do computador como três importantes dimensões: dimensão comunicacional, a dimensão colaborativa e a dimensão de construção de conteúdos. Ou seja, a criança passa a se comunicar o tempo todo, com todas as outras crianças, participa de trocas e colaborações através de trabalhos em grupo e constrói seu próprio conhecimento porque é autor de suas publicações. Além do aspecto financeiro, portanto, é preciso que a Escola repense uma nova estrutura do seu PPP (Projeto Político Pedagógico), a fim de adequar Informática, Redes Sociais e Modelo Educacional.

Pensar nessa nova modalidade de Ensino e Aprendizagem na Escola baseado em redes não é pensar o próprio papel das Escolas para o século XXI?

É exatamente esse o ponto central da revolução educacional que estamos atravessando no momento. A Educação não está em crise, porque sabemos exatamente o que queremos. O que precisamos é atualizar os “modus operandis” que a velha Escola trabalha, baseada no modelo em linha de pensamento, de um para muitos, para um novo modelo, de muitos para muitos, onde são pensadas as novas capacitações praxiológicas docentes e a inserção das novas tecnologias computacionais no aparelho educacional, tanto pelo aspecto da Comunicação quanto da Informação. No modelo em rede, alunos e professores são ensinantes e aprendentes. Não é só a Escola que está pensando o papel, mas os próprios alunos estão questionando que Escola eles querem freqüentar. E alguns sintomas já podem ser sentidos, como a abstinência ao querer aprender, a falta de respeito com os professores e a Instituição, a violência contra colegas e professores, a grande decepção nas avaliações nacionais como o ENEM. Certamente, queremos outra Escola. Mas o problema não é só da Escola, é também do modelo que a sociedade permita que a Escola seja. Só que agora, a sociedade quer mudar o modelo e a Escola demora um pouco para refletir a mudança e começar a agir. Existe um tempo que deve ser considerado, mas algumas iniciativas já estão sendo feitas pra isso. O exemplo do PORTAL EAD BRASIL é um deles.

Quais as novas capacitações que esse novo professor deve adquirir para acompanhar o pensamento em rede?

Não existe mais a velha concepção de que um curso ou capacitação vai transformar o velho no novo professor. É uma continuada postura de aprendiz, acompanhar as novas diretrizes e caminhos da Educação é estar o tempo todo estudando, se capacitando, se habilitando para trabalhar com realidades altamente voláteis e passageiras. Edgar Moran nos traz o conceito do princípio de instabilidade, quando diz “o saber é provisório”. Só para dar um exemplo desta volatilidade, a aprendizagem de aplicativos computacionais é de tal ordem que os professores não acompanham mais as novidades, pois assim que terminam de se preparar para trabalhar em sala de aula com um programa, já aparece outro em seu lugar e nova capacitação requer novo aprendizado do docente. Então o que observamos no sistema em rede de ensino e aprendizagem é a divisão de capacitações, e para isso precisamos dos alunos e dessa colaboração em aprendizagem em rede e fazer com que eles também aprendam esse volume grande de novas soluções que chegam às escolas todos os anos. O professor não precisa mais saber tudo; porque o aluno chega à Escola sabendo tudo. Mas então qual é o papel desse professor nesta nova educação em rede? Certamente, é uma formação continuada. Os professores precisam lidar com essa velocidade e profusão de novas informações e de novos ambientes educacionais.

Como as redes sociais podem contribuir efetivamente com a melhoria educacional e o nível de aprendizagem de nossos alunos?

Não são as redes sociais diretamente que vão melhorar nossa Educação, mas o que iremos fazer com essa tecnologia a serviço da Educação. No pensamento em rede não existe mais a figura do professor que detém o conhecimento e a informação debaixo do braço. Já descobrimos ainda que tardiamente, que o poder hierárquico do professor atrapalha a aprendizagem. O aluno chega à Escola com muitas perguntas e o que o professor tem que estar preparado não é para dar respostas, mas para pesquisar junto com o aluno, através dos sistemas computacionais e dos ambientes virtuais de informações. Se o aluno que está indo para a Escola não é mais o mesmo, também o professor deve mudar e sair da mesmice, desconstruir os seus preceitos e construir novas atitudes diante do conhecimento. O professor precisa saber que ele também é um aprendiz. E as redes sociais possuem um excelente exemplo de como é participar de uma sociedade sem chefia e sem comandados. Todos nas redes sociais são produtivos, visíveis e ensinantes e aprendentes. A Interdisciplinaridade existente nas redes está revolucionando o modo de construção de saberes. Temos que responder aos problemas da sociedade com a participação de todas as disciplinas. Nenhuma, em separado, dá conta das respostas. Para essa união é que dizemos que a interdisciplinaridade é fundamental.

O FACEBOOK se tornou a mais importante ferramenta de sistemas de comunicação e informação em rede conhecidas na atualidade. Como ela pode contribuir para melhorar a Educação?

Primeiro a mudança é estrutural. A Escola precisa parar de proibir o uso dos dispositivos eletrônicos na Escola. Mas ao mesmo tempo, ela só pode fazer isso se ela der um sentido educacional ao uso, colocando definitivamente dentro do currículo. E para isso precisa reeducar seus professores para essa utilização. E já existem centenas de exemplos nas próprias redes sociais do sucesso do uso desses equipamentos. Segundo, que o FACEBOOK é um ambiente virtual de construtores. Todos os participantes para interagirem no sistema constroem mensagens. Essas mensagens são vistas através de diferentes tecnologias: textos, figuras, fotos, áudios, vídeos, enquetes, notas, etc. Além dos alunos passarem a ler todas as mensagens dos colegas o que já seria um aprendizado fantástico, também realizam suas próprias produções. Este é o principal paradigma a ser perseguido pelas Escolas que queremos para o século XXI. Alunos que se tornem leitores protagonistas e construtores de conhecimentos. O papel do professor neste processo, além de aprendiz, é o de orientar os alunos nas pesquisas e nas construções. O estudo das estratégias de ensino como promover os conteúdos em sala de aula para que os alunos busquem a pesquisa, a colaboração, a interatividade e a produção de saberes. Não há alunos passivos no sistema em rede, não há avaliações nem cobranças, os alunos estudam e aprendem porque precisam produzir para poderem pertencer a este universo. E o sentido para eles de participação e a construção individual de conhecimentos. São mais críticos por que se expõem, e por se exporem mais, aprendem mais rapidamente. Não é truque, nem mágica, é colaboração, é aprendizagem ativa, por isso duradoura e significativa.

Como aconteceu este fenômeno do curso FACEBOOK NA SALA DE AULA, promovido pelo PORTAL EAD BRASIL?

A aplicação de redes sociais em sala de aula foi a solução que o PORTAL EAD BRASIL encontrou para capacitar os professores diante dos problemas comuns hoje em dia nas escolas brasileiras. E o principal problema é “as crianças estão desmotivadas para o estudo e para a aprendizagem”. Sem precisar de uma pesquisa muito longa e científica, constatamos que a maioria dos alunos está indo para as escolas, desejando que o recreio chegue rápido para que possam consultar o FACEBOOK e interagir com seus colegas. Ora, alguma coisa está errada. O ponto alto da Escola passou a ser o recreio? E como se isso ainda não fosse o pior, algumas escolas brasileiras estão proibindo o FACEBOOK no recreio, com a desculpa de que as crianças precisam corre e brincar e interagir com as outras crianças. Então percebemos que o que faltava era uma formação dos professores para o uso pedagógico do FACEBOOK NA SALA DE AULA, desta maneira, criamos o curso e está sendo este sucesso estrondoso em todo o Brasil.

Quais os pontos principais do curso e porque ele está chamando tanto a atenção das escolas em todo o Brasil?

Bem, quanto ao fato de estar chamando a atenção em todo o Brasil é o efeito da inovação pedagógica que estamos introduzindo. Não é simplesmente introduzir um ambiente virtual na Escola. Muitas escolas já possuem seus próprios ambientes de educação. A inovação aqui, traduzida no curso é uma nova metodologia e uma nova pedagogia que discuta o modelo educacional que queremos, trazendo o ambiente onde as crianças gostam de estar e perguntando a ela como ela gostaria de estudar e aprender utilizando o seu brinquedo. Foi assim com a revolução dos materiais pedagógicos e dos objetos de aprendizagem de Maria Montessori, nos idos de 1900, quando interpretou o grito das crianças: “Ajude-me a agir por mim mesmo”, alegando que as crianças deveriam construir seu próprio entendimento a partir das relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto, ou seja ação do sujeito sobre o objeto. Também foi assim com Édouard Claparède, professor de Piaget, através de sua pedagogia experimental, onde descrevia a criança como sendo o sujeito aprendendo através da experimentação e observação direta numa ação com o objeto. E outros como Ovide Decroly, e o seu método ativo, aonde o aluno conduz seu próprio aprendizado, e a pedagogia libertária de John Dewey, que preconizava uma pedagogia para solução de problemas, valorizando a capacidade de pensar, questionar, problematizar, sendo considerado até hoje o pai do construtivismo. Poderíamos citar inúmeros pensadores e educadores ao longo da História que tentaram em seus modelos mostrar como a criança constrói seu pensamento e seu conhecimento. Desta maneira, o curso FACEBOOK NA SALA DE AULA, proporciona esta oportunidade. Em nosso curso, o professor estuda seis estratégias de ensino, e em cada estratégia, são discutidos alguns comportamentos e variáveis típicas de REDES DE RELACIONAMENTOS e suas implicações, como a pedagogia social, ou seja, o que o aluno traz de conhecimento das ruas que a escola precisa incorporar no currículo, como a educação não formal, produzida por centenas de cursos profissionalizantes, das intencionalidades e reciprocidades das redes de relacionamentos, dos comprometimentos e participações, dos sistemas de autorias e ouvidorias próprias dos sistemas em rede, e por fim, de metodologias como o sistema MANDALA DA INTERDISCIPLINARIDADE, conceito criado pelo PORTAL EAD BRASIL para designar à necessidade de se trabalhar as disciplinas em conjunto e não separadas ou fragmentadas. O curso oportuniza o contato dos professores com ensinamentos sobre esta modalidade de ensino em rede e como ela pode desconstruir e reconstruir um novo significado ao estudo e a aprendizagem, tornando-a mais duradoura e significativa, para ambos, professores e alunos.

Qual a duração do curso e como os professores estão adequando as realidades das escolas ao novo modelo em rede?

Hoje os professores estão mostrando para as escolas onde trabalham um exemplo dessa aplicação. Com o tempo, as escolas deverão se adequar física e logicamente para essas novas estruturas didático-pedagógicas. O curso possui a duração de doze semanas, duas semanas para cada estratégia de ensino. Mas é importante que se diga que os professores precisam realizar o curso e que não basta apenas as informações advindas de professores que já fizeram o curso. É preciso interagir durante o curso com os relatórios e as análises feitas em cada estratégia. Disso advém uma aprendizagem única para cada professor. As Escolas estão pouco a pouco adequando ao novo cenário, mas requer investimentos computacionais, capacitação dos professores e melhores entendimentos dos sistemas de rede de educação.

O PORTAL EAD BRASIL possui uma estrutura para atender essa necessidade de informação e adequação das escolas para o exercício pleno dessa nova metodologia em rede?

Nossos maiores esforços tem sido ajudar as escolas a realizar esta travessia entre o modelo atual e tradicional de ensino e aprendizagem para o sistema em rede de educação. Por enquanto nós estamos atendendo através de email. Os contratos de consultoria e assessoria com as escolas municipais e estaduais dependem das diretrizes dos secretários de educação. E as escolas particulares podem entrar em contato conosco pelo email: contato@portaleadbrasil.com.br

Para terminar, qual a recomendação geral que o PORTAL EAD BRASIL deixa em relação ao uso de redes sociais em sala de aula?

Enquanto os alunos tiverem que desligar seus equipamentos eletrônicos quando chegam à sala de aula, não teremos um aluno completo, total, pronto para aprender e com vontade de estudar. Porque quando as escolas proíbem o uso, mas ao mesmo tempo pedem para que eles se abram para o mundo do conhecimento, estão sendo incoerentes e imprecisos e deixando de ser uma escola educativa. E sem uma escola educativa, não teremos nem escola, nem alunos reflexivos, nem cidadãos. Estaremos apenas produzindo cidadãos imaturos políticos e sociais. A base da nova estrutura educacional que queremos para o século XXI é um aluno que em primeiro lugar, recupere a estima de ser feliz por querer estudar, em segundo lugar, porque deseja estar na Escola, mais do que em qualquer outro lugar e, em terceiro, que a Escola deixe ele produzir seu próprio aprendizado e conhecimento. As redes sociais são aquilo que queremos que elas sejam e por isso elas fazem sucesso fora da escola, por que seus usuários perceberam o seu alto valor de aprendizado e colaboração. As crianças são gregárias, precisam viver em grupo e vão aprender em grupo, se as escolas oportunizarem as redes sociais. Espaços de construção de conhecimentos são raros hoje em dia, e as redes sociais tem se mostrado um excelente lugar. A  Escola precisa urgentemente querer entrar, ou então teremos um aluno com vontade de sair.