ORGANIZAÇÕES EM REDE – O FENÔMENO DA INTERATIVIDADE

17/04/2013 15:07

 

Pasmem! O mundo não é mais centralizado! É globalizado, mas não é mais centralizado. O mundo das organizações não é mais participativo, agora é interativo. Participação era atividade típica de organizações mecanicistas e industriais. No mundo globalizado, a interação é constituída pela sua engenharia em rede.

Assim como o cérebro não guarda uma informação num só lugar, ela deposita em vários lugares, de modo que se perder um ou dois neurônios, a perda será mínima. Também as organizações devem proceder como regime neuronal de governança.

As organizações que se constituem ainda centralizadas e participativas tendem a aniquilação e extermínio gradativo. A hegemonia das arquiteturas organizacionais com regime de especialização tendem a ser engolidos pela redes que se estabelecem nos mundos modernos e contemporâneos. O conhecimento funcional não existe mais. As pessoas não devem mais ser treinadas e habilitadas para atividades especialistas. Mas como entender os novos processos e paradigmas de sistemas em rede?

COMO FUNCIONA O CÉREBRO – FUNCIONAM AS ORGANIZAÇÕES

Com o avanço das neurociências, e o conhecimento de como o cérebro funciona, como se aprende e como o ser humano resolve os problemas do cotidiano, se descobriu que a mente humana é multidimensional e trabalha em rede. Ela não centraliza os aprendizados, ele se distribui uniformemente de forma variável, de maneira que as conexões estabelecem inúmeras formas de recuperação das informações, para salvaguardar em caso de danos ou prejuízo de neurônios que deixam de funcionar.

Analogicamente a mente humana, as organizações avançaram para se organizarem e interagirem em sistemas de redes, inúmeras redes. Quando se pensa em redes de pessoas e suas respectivas interações, têm-se infindáveis relações que se estabelecem de diferentes maneiras o tempo todo, sem nunca se repetirem.

Os homens pensam multidimensionalmente, mas trabalham em estágio mono. Só agora, com o estabelecimento de organizações em rede, é que se permitiram descobrir que podem interagir em seus fluxos sem necessidade de comandar ou controlar. Os organogramas foram inventados para que seus dirigentes não perdessem o comando, tomada de decisão, e regime de consenso. Não existe mais tomada de decisão, nem consenso. Os fluxos das informações devem seguir seu caminho determinado pelas interações estabelecidas entre as pessoas dentro das organizações. O que é preciso deixar bem claro são os objetivos das organizações.  Como o cérebro, as organizações armazenam as informações em diferentes sistemas interativos. As empresas que mais evoluíram nos últimos anos foram aquelas cujos detentores dos bens de capital entregaram para a organização o regime de comando em rede. É como se o dono da empresa desse o start ao negócio e deixasse a própria organização crescer, se desenvolver, sem buscar regime de controle e administração. Ou seja, sistemas de redes se estabelecem no próprio âmago dos negócios, controlados por sinergias e forças de mercado, tais como: custos, formação de preços, fornecedores, logísticas de distribuição e vendas, sistemas de marketing e visibilidade. Se não há mais necessidade de participação, devemos conhecer o poder das interações.

PARTICIPAÇÃO x INTERAÇÃO

Durante muitos anos, todos fomos treinados e capacitados a sermos participativos. Inúmeras reuniões nos colocavam em salas, finamente climatizadas, com assentos confortáveis, quadros e lousas para questionar os fluxos e os destinos das receitas das organizações. No momento da história mecanicista, todas essas participações eram legitimadas pelo regime de verticalização de propriedades de conceitos. As pessoas eram treinadas a receberem informações e a só distribuírem para caixinhas definidas, operacionalizadas e comandadas, para o chefe, chefe do chefe e assim por diante. O fluxo era emperrado, lento, por conta da necessidade de controle daquele que precisava saber o que todos estavam fazendo. Comportamentos para reprodução verticalizada, de modo a fornecer informações ao dono do negócio, aquele que possui os bens de capital. Quando as economias abriram seus capitais para uma sociedade em rede, todos passaram a ser donos do negócio, e as velocidades se alteraram. Mais capital, mais relações em rede, multimodais, multifuncionais, multineuronais.

A palavra de ordem neste século que entra é INTERATIVIDADE. Nesta topologia, a centralização, padronização, controle e administração, são palavras não agraciadas. Não existe uma pessoa, ou uma caixinha detentora do conhecimento e das diretrizes. Os comandos estão distribuídos na rede de interações. Não importa mais quem manda, importa é que todos obedeçam a nova ordem estabelecida. E a ordem é interação. Por que no velho sistema o paradoxo trancava as portas pelo lado de dentro. Para abrir as portas modernas dos sistemas de sucesso à palavra de ordem são comandos distribuídos. Todos os colaboradores das organizações modernas sabem por que estão atuando em cada situação, tem conhecimentos de todos os fluxos. Não são mais especialistas, são, por excelência, generalistas. Como o cérebro, se um deles cair, (morrer, for demitido, estiver de férias, viajar pela empresa), a organização busca a solução em outros colaboradores que possuem as informações que este colaborador detinha. No cérebro, se neurônios deixam de funcionar, o sistema busca noutros neurônios as informações que precisa para solucionar determinados problemas. A interatividade executada pelos colaboradores nas organizações é que estabelecem suas necessidades de fluxos, de armazenamento, de produção de conhecimento, e não o contrário. A rede é um padrão de organização, não uma ferramenta. O sistema é resiliente. A risiliência é uma combinação de distribuição com redundância. A natureza nunca coloca uma parede, coloca membrana. Existem trocas o tempo todo. O meio tem que interagir o tempo todo. A organizações que mais aprendem não fecham suas portas ao mercado, pelo contrário, estabelecem inúmeras redes de interatividade. Veja o caso da Google e do Facebook. Aprendem mais rapidamente o caminho que devem trilhar pela interatividade que assimilam da própria rede que criam novas conexões todos os dias.

ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS E POSIÇÕES MUTANTES

Na nova produção de negócios, as topologias empresariais estabelecem que cada colaborador deve experimentar posições diferentes, constantemente. O caso mais extremo para exemplificar: é o dono da organização ocupando outros cargos na organização para aprender como cada tarefa está sendo executada. Mas o mais interessante é que enquanto ele está ocupando o cargo de gerência de vendas, de compras, de contabilidade, etc., outro colaborador está no cargo de presidente, deliberando, interagindo como tal nas decisões da organização. É simples de imaginar que eu vou querer na minha equipe de colaboradores membros que saibam o que fazer com a empresa, lá no ponto mais alto do comando. E que as suas decisões serão executadas, e que o colaborador é responsabilizado pela tomada de decisão. Se todos experimentam vivências diferentes nos fluxos organizacionais, estabelecem um novo regime de rede de interatividades que elevam as organizações para reflexão e adaptabilidades instantâneas.

CHA – CONHECIMENTO – HABILIDADE – ATITUDE

O fenômeno filosófico nos últimos anos nas organizações estabeleceu que o CHA, deveria ser preconizado e seguido por todos os colaboradores. Cada indivíduo deveria ser treinado, capacitado para sua especialização, desenvolveria habilidades para resolver questões dentro de sua expertise, e que suas atitudes seriam interpretadas pelas organizações como comportamentos ditados por diretrizes organizacionais. Ora, esta topologia de negócios engessa todos os colaboradores em seus cercadinhos, não deixando os indivíduos crescerem e se descobrirem em outras atividades da empresa onde podem interagir mais e melhor. Se estiver em quatro paredes e não conseguir ver a empresa toda, como posso contribuir com minhas informações e com o conhecimento que construo?

Em atividades mecanicistas e industriais esta filosofia poderá trazer resultados benéficos. Porém, em regime de sistemas em rede, essa poderá ser a própria ruína da organização. Empresas muito grande sucumbiram porque queriam controlar todas as rotinas, fluxos, tomadas de decisão. Buscavam o consenso e perdiam muito tempo sendo participativas. Perdiam seus colaboradores, perdiam para a concorrência, e seus produtos eram rapidamente ultrapassados, porque seus fluxos estavam sendo discutidos, ao invés de interagirem com o mercado e com seus fornecedores e clientes. Rede é velocidade e interatividade o tempo todo.

FENÔMENO REDE NAS SOCIEDADES DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS

O sistema de distribuição das informações no mundo moderno teve seu movimento alterado a partir do momento que não há mais distribuidor de informação e sim consumidores autores. No passado, os livros publicados ditavam o que seria dito, proferido, ensinado, distribuído. Na velocidade que queriam, estabelecidas pelas editoras. Hoje todos os indivíduos produzem informação em rede, através de áudios, vídeos, blogs, sites e redes sociais. Quando se alterou o padrão da rede estabelecida de livro para produção massiva, o fenômeno redes sociais como a conhecemos hoje, alterou não só as velocidades, mas como a própria produção de conhecimento é concedida. Vamos voltar à analogia do cérebro novamente.  

A produção de conhecimentos pelo cérebro é estabelecida por vários sentidos ao mesmo tempo. O cérebro armazena todos os fenômenos de sentidos utilizados no transporte das informações que chegam até ele. Por exemplo: o carinho da vovó vem acompanhado do odor de seu perfume, do sorriso de sua dentadura, dos olhos lacrimejantes e da entonação de voz que nos acariciava. Todas essas informações e comunicações não verbais contribuem para que o cérebro armazene a informação de maneira multidimensional em vários locais do nosso cérebro. Esta informação ficará no cérebro em diferentes contextos. As expressões faciais, o odor dos perfumes, os carinhos táteis, a leitura dos olhos, a entonação da voz para diferentes ocasiões, etc. Tudo é armazenado em diferentes locais com propósitos distintos.

Assim, também as organizações da contemporaneidade estabelecem o armazenamento em diferentes locais da empresa. O colaborador do departamento de vendas tem uma relação com o cliente, e armazena uma série de informações distintas, armazenadas como um banco de dados com vários segmentos de informações. Já o departamento de marketing, vê esse mesmo cliente com outros aspectos.  A contabilidade vê diferente também, e assim por diante.

No fenômeno em rede, cliente é visto pela organização de diferentes maneiras, com diversos filtros ou lentes. A interatividade na organização vai se relacionar com esse cliente de tal maneira, que muitos aspectos serão vistos por diversos colaboradores. Enquanto uns o vejam como um registro que está pagando mensalidades e parcelas, outro colaborador enxerga este  cliente como um indivíduo que precisa continuar comprando o mesmo produto ou precisa ser informado das novidades que a empresa está lançando no mercado. Outro colaborador está preocupado com a opinião que este cliente está fazendo da empresa para outros indivíduos nas redes sociais e vai buscar antever possibilidades de perda da marca, da qualidade de seus produtos, ou da concorrência que está desenvolvendo soluções mais modernas e interessantes, através de seu Business Intelligence, que é um processo de coleta, organização, análise, compartilhamento e monitoramento de informações que oferecem suporte a gestão de negócios.

Assim como o cérebro adquire informação, também as organizações recebem informações diárias. Não é toda a informação que chega ao cérebro que será transformada em conhecimento, assim também as organizações devem saber o que fazer com cada informação que chega. Antigamente as portas de entrada da informação eram regiamente controladas, hoje sistemas de redes proporcionam às organizações, múltiplas entradas. Cada colaborador é uma porta que se abre para a empresa com novas informações. Mas no regime de rede as informações são rapidamente vistas e interpretadas por todos. Não fica nas gavetas de um ou de outro, é meio circulante, é, portanto, interatividade.

No mundo moderno, a interatividade não é mais um conceito só, ela é a própria essência das organizações. As diferentes redes estabelecidas pela organização é que vão dizer como ela será inserida na sociedade e como os clientes devem interagir com ela.

Ou as organizações se estabelecem como redes, ou vão continuar se reunindo para descobrirem por que seus negócios estão sucumbindo.