Que tipo de homens seremos

19/08/2011 11:24

Desde os primórdios do descobrimento do Brasil, pensadores e filósofos buscaram tecer comentários, estudar e pesquisar o modo como o ensino e a aprendizagem poderiam melhorar as condições da sociedade.

Desde COMÊNIO, nos idos de 1600, com sua ideia de um professor para vários alunos, até os dias de hoje, num intervalo aproximado de 400 anos, a educação no mundo sofreu diversas correntes filosóficas, religiosas, renascentistas, humanistas, empiristas, behavioristas, e mais recentemente cognitivistas, e através da interdisciplinaridade, as neurociências, através de seus estudos sobre os modelos computacionais e quânticos da mente, buscam ajudar os pedagogos e educadores, numa ação interdisciplinar nunca antes vista na história.

A educação assume um papel importante nos destinos de uma classe que nascia com a revolução mecanicista européia.

Na Europa, nos séculos 16 e 17, a revolução educacional, atinge todos os países que buscavam através de várias correntes e práticas pedagógicas, prepararem os jovens para uma sociedade nova. Uma das personalidades que altera significativamente a educação foi PESTALOZZI, que através de sua Pedagogia Moderna, subverteu os moldes escolásticos, projetando novos modelos, colocando uma educação baseada no afeto, no amor e na auto-educação.

Logo, outro filósofo, FROEBEL, introduziria os jardins de infância, colocando mais ludicidade na sala de aula, através de jogos e brincadeiras, buscou introduzir uma verdadeira revolução para o pensamento da época.

Correntes positivistas elaboram uma educação mais rígida de preceitos prevalecendo a ordem, o respeito e a responsabilidade, conforme seu principal pensador desta corrente, COMTE, nos confirma em seus escritos.

A esta corrente, DURKHEIM, propõe uma educação voltada para o social, com ênfase na moral, religião, ética e comportamento sendo uma das tônicas do período.

No século 18, John Dewey, empirista, propõe uma educação baseada na ação, voltada para a resolução de problemas, conceitua a união entre a teoria e a prática, inspirando assim desta maneira, o surgimento da escola nova, 1930.

Várias pedagogias são experimentadas em todo o mundo, entre elas o modelo pedagógico de Wardorf de RUDOLF STEINER, que pregava o desenvolvimento de um ser mais completo, reflexivo, capaz de questionamento.

Outro modelo, criado por MARIA MONTESSORI, reformulou os modos de ensinar em sala de aula introduzindo uma pedagogia que poderíamos chamar de pedagogia do fazer. Através de seus materiais pedagógicos permitia que as crianças pesquisassem e trabalhassem em grupo.

Outros autores experimentaram modelos educacionais, pedagogias e práticas pedagógicas como DECROLY, CLAPARÈDE, WALLON, NEILL, que foi muito criticado por introduzir um conceito muito liberal para a época. NEILL acreditava que a criança deveria ir para a escola quando quisesse, que deveria ser respeitado o tempo da criança para aprender.

Mais tarde, já na revolução mecanicista e na era industrial, filósofos como FREINET, BUBER, introduziram uma pedagogia do trabalho, êxito e de bom senso, preparando os jovens para um mercado de efervescência industrial, de abertura dos costumes, queda de tabus, independência da mulher, e que aprendesse a conviver na coletividade.

Já no século 20, os cognitivistas como LEV VYGOTSKY, JEAN PIAGET, nos agraciaram com trabalhos magníficos sobre o desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança. VYGOTSKY, através de seus estudos sobre a ZDP (Zona de desenvolvimento proximal) preconizava que a aprendizagem se dava através do meio, de mediador e que o desenvolvimento era conquistado pela criança numa zona entre o real e o potencial. Para PIAGET a aprendizagem era um processo interiorizado, através da assimilação, acomodação e equilibração das estruturas cognitivas da criança.

AUSUBEL, sobre outra perspectiva nos promove uma análise profunda com sua aprendizagem significativa e construtiva, considerando que a criança só aprende o que faz sentido para ela.

No século 21, grandes correntes do pensamento filosófico nos colocam em contato com uma diversificação ainda maior, se pensarmos que tentamos buscar hoje, na educação contemporânea, o que os modelos tinham de interessante para o homem moderno, informado, complexo, reflexivo, que domine e controle os seus aspectos de moral, ética, respeito, responsabilidade, que seja participativo, que colabore, que viva em grupo, que participa de comunidades virtuais, que se comunica através de celulares, email, de mensagens espontâneas, que está perto de todos que conhece graças a uma tecnologia imediatista.

Se pensarmos nas contribuições de PAULO FREIRE, GARDNER, PERRENOUD, PIEERE LÉVY, e imaginarmos com ALVIN TOFFLER, o Homem do amanhã, uma educação contemporânea, produto de várias correntes pedagógicas com interdisciplinaridade na sociologia, psicologia, antropologia, educação, neurociências, e as novas tecnologias remodelando o tecido social e educacional.

O novo homem do amanhã certamente é o resultado do que fizermos com esta criança de hoje, contemporânea, vanguardista, irrequieta, que precisa de ajuda, que os oriente, que mostre as opções de pesquisa, que os faça pensar, deduzir, e que, sobretudo, desperte nele o desejo de aprender e que esta aprendizagem faça sentido para se transformar em real significado.

A educação contemporânea é uma colcha de retalhos de infinitos modelos, práticas, teorias, apoiadas por pensadores atuais. Esta educação está impregnada de modernidade, de tecnologias, de objetos de aprendizagem, de virtualidade, de interatividade, de teoria e prática, de ação e pensamento, que estimula o aprender a aprender, a auto-educação e a auto-aprendizagem. Que esta criança de hoje que se preocupa com o planeta, com o seu vizinho, com a sociedade produtiva, com o lixo reciclável, que se acostuma a ser ouvido e dar a sua opinião nas comunidades virtuais, que busca o mercado globalizado, que deseja uma natureza biodegradável. Numa sociedade que avança para uma “quarta onda”, seja ela qual for, a informação e a tecnologia são preponderantes para uma nova produção, a do conhecimento e da sua utilização.

Os diferentes aportes teóricos que hoje se apresentam, mais as epistemologias que surgem com o pensar referente ao novo docente que se deseja, e do novo aprendiz que se espera cujos fenômenos estudados através da comunhão de várias vertentes de ciências, buscam dar conta de uma análise mais global, sistêmica e abrangente, e permite antever que os trabalhos pós-piagetianos e pós-construtivistas são pedagogias e práticas pedagógicas associadas a um processo de construção mediante informações disponibilizadas pela aldeia global.

A teia do saber está entremeada de sentidos que colocamos nas tecnologias como depositório de desejos, anseios e vontades intrínsecas, considerando que o jovem de hoje é um ser que possui uma algibeira tecnológica como um cinto de utilidades contribuindo para um conhecimento coletivo e uma formação de inteligência social numa velocidade nunca experimentada antes.

Sejam quais forem às correntes desta educação contemporânea, ela surgirá tão rapidamente que não saberemos de onde veio e que influências as trouxe e partirá tão mais rápido ainda, que teremos a sensação de que nunca existiram. A sociedade do futuro é uma sociedade em rede, interconectada, com redes sociais para todos os assuntos, para aprender, para conhecer lugares, cheiros, temperos, para leituras eletrônicas, para pesquisa, reuniões em rede, socialização geral e irrestrita.

A educação contemporânea é isso, um pouco de cada pedaço do planeta ao alcance de seu dedo em alguma tecnologia de bolso.